domingo, 15 de março de 2009

Para aí, buna!

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por Beatriz Cruz


No meu tempo de escola, ao acabar o primário, tínhamos que prestar um exame para entrar no ginásio. O primário tinha quatro séries e o ginásio outras quatro.

Enquanto cursava o quarto ano, muitos colegas faziam um cursinho por causa deste exame e eu queria também. Mas mamãe achou que eu não faria direito nem uma coisa nem outra. No final do ano, gente mais atrasada do que eu entrou no ginásio! Indignada, me inscrevi para a segunda época – isto é, outro exame em fevereiro. Tive aulas particulares de matemática e português, estudei durante as férias inteiras.

Chegado o grande dia, fui nervosa para a escola. Antes de entrar na sala, olhei a lista dos candidatos e nela constava um Índio Tupinambá Americano do Brasil. Achei estranho. Fiquei observando todos os meninos, mas não vi nenhum índio por ali. Imaginei um garoto vestido de tanga, com a cara pintada...

Primeiro, tivemos que fazer uma pequena redação. Depois, descabelei-me com os problemas de Matemática. Com mais segurança, fui respondendo as perguntas sobre História do Brasil e Geografia. Um pouco antes de terminar, porém, empaquei na última questão: “Escreva tudo o que sabe sobre o rio Paraíba”.

Pensei, pensei e de nada me lembrei. Que coisa horrível essa Geografia! Deixei a resposta em branco.

Acabei sendo aprovada, mas quase levei uma surra de mamãe. Como é que não me lembrava daquele rio? Por acaso tinha me esquecido dos piqueniques que fazíamos às suas margens, naquela prainha tão gostosa? E de tudo o que ela repetia toda santa vez que por ali passávamos?...

... Que o rio era formado ali perto por dois outros - o Paraitinga, que vinha lá de São Luiz, e o Paraibuna, o mesmo nome daquela cidade do cemitério onde os defuntos por nós esperavam?... Aquele nome que a gente gostava de dizer “Para aí, buna!”, sugerindo outra coisa?...

...E que tornado Paraíba ele banhava toda a nossa região, o importante Vale do Paraíba? E que por sua causa víamos tantos arrozais por aqui?...

Para aí, menina. Presta atenção!

texto publicado em 15 de março de 2009 em http://www.usinadeletras.com.br/

Foto: Nelson Wisnik

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A descida da serra

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por Beatriz Cruz



Férias em Caraguatatuba demandavam preparativos especiais. Era preciso levar tudo. Até comida. Lá não se encontrava leite fresco com facilidade, nem carne bovina. Nos pobres mercadinhos o que havia mesmo era peixe em profusão. E bananas. Carregávamos, então, um sortimento de latas de leite condensado. E sacos de arroz, feijão, farinha, batata, café...

Tudo isto, mais roupas de cama, toalhas de banho, malas, bolas, bicicletas... Não cabia no carro. A enorme bagagem e algumas crianças seguiam num jipe com reboque atrelado.

Até Paraibuna a viagem transcorria calmamente, o único susto acontecia diante do cemitério da cidade. Já conhecíamos os dizeres acima do portão, mas quando ali passávamos líamos em voz alta, com entonações soturnas: “Nós que aqui estamos por vós esperamos”. Achávamos que os fantasmas não gostavam de crianças contentes a caminho da praia. Tínhamos certo receio de que nos seguissem, invisíveis...

Logo adiante, já nos esquecíamos deles ao parar numa prainha à beira do rio. Era a hora do pique-nique. Comíamos sanduíches e brincávamos um pouco com as mãos na água fria.

A pausa não podia se alongar, tínhamos chão pela frente. O pior trecho a transpor, a descida da serra.

As curvas causavam transtornos a todos. O motorista devia ficar muito atento. As crianças se jogavam umas por cima das outras a cada virada. E davam risadas estridentes. Ou então brigavam.

Em meio à balbúrdia, alguns enjoavam. Era preciso parar e colher folhas de erva-cidreira. Apertadas nas mãos, elas exalavam um perfume gostoso que acalmava estômagos. Mas cortavam os dedos!

Logo nos distraíamos olhando a paisagem. O Pico do Papagaio sempre nos impressionava. Depois, prestávamos atenção para ver quem seria o primeiro a enxergar o mar lá em baixo. Quando o descobríamos, que maravilha!

Alguns carros nos ultrapassavam e nestas horas uma nuvem de poeira se formava. Rodávamos depressa as manivelas para levantar os vidros. Tia Maia, que às vezes ia conosco, usava máscara para proteger o nariz. Deste modo, chamava a atenção e nós achávamos engraçado o olhar espantado das pessoas. Se fosse hoje em dia, pensariam que escondíamos um ET.

Para aqueles que iam no jipe, nada a fazer, a poeira entrava por todos os lados. A diversão era ver cabeças morenas se transformarem em loiras. Fazíamos também um concurso e ganhava quem tirava do nariz a bolota de barro mais perfeita.


Terminada a viagem, batíamos nas costas dos outros só para ver um pozinho se levantar.

Sempre, ao chegarmos ao alto da serra, mamãe nos contava da sua primeira viagem ao litoral. Ela dizia que a estrada, mais precária ainda, terminava ali, onde alguns homens acompanhados de cavalos aguardavam os passageiros. Quem quisesse chegar à beira-mar tinha que seguir montada no lombo dos animais. Crianças pequenas iam ao lado das mães, dentro de cestos de vime.

E a caravana descia a serra, lenta e cuidadosamente, por trilhas no meio da mata.

publicado em 17 de setembro de 2007 em http://www.usinadeletras.com.br/

Foto: Nelson Wisnik
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domingo, 8 de março de 2009

o recado

Paraibuna

Em 1998, inspirado no recado que emoldura a entrada do cemitério de Paraibuna, "NÓS QUE AQUI ESTAMOS POR VÓS ESPERAMOS", Marcelo Masagão dirigiu o documentário de nome "Nós que aqui estamos por vós esperamos", no qual expõe os conflitos entre a esperança, a loucura, o desenvolvimento tecnológico, as duas grandes querras.

O filme traz imagens do século XX mas bem pode ter continuidade com imagens mais recentes de guerras persistentes, o risco advindo do aquecimento global, a derrocada da economia globalizada.

Em 1999 o filme foi premiado no Festival de Gramado (melhor montagem) e no Festival do Recife (melhor filme, melhor roteiro e melhor montagem).

A ficha técnica do filme, os personagens e suas histórias, artigos e textos publicados a seu respeito, podem ser acessados ativando o link do filme em "Visite" na barra de menu deste blog.

Algumas partes do documentário podem ser assistidas ativando os ícones em "o documentário" no menu ao lado.

Foto: Nelson Wisnik Paraibuna

domingo, 1 de março de 2009

o nível do reservatório da UHE Paraibuna

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O gráfico ilustra a evolução temporal do nível do reservatório da UHE Paraibuna.

No eixo horizontal está representada a cronologia dos eventos desde outubro de 2001.

A precipitação média de longo prazo é ilustrada através das colunas na côr cinza, enquanto que a precipitação observada a cada mês está representada através das colunas na côr azul. A escala da intensidade das chuvas está representada na lateral esquerda do gráfico.

A linha em vermelho representa o nível do reservatório de Paraibuna, percentualmente em relação ao seu volume útil total, e sua escala está representada na lateral direita do gráfico.

Simplificadamente, pode-se observar que em 2002 e 2003 as chuvas ocorreram em antecipação e em menor intensidade que a média, tendo por consequência o baixo nível do reservatório.

De 2004 a 2006 as chuvas chegam a superar a média promovendo a recuperação do nível do reservatório, que novamente se reduz em 2007.

As fortes chuvas em 2008 e neste início de 2009 recompõem o nível do reservatório, que se encontra atualmente com 79% da sua capacidade.

Fonte: INPE

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histórico de chuvas em Paraibuna

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O gráfico ilustra a incidência de chuvas na região de Paraibuna nos últimos dois anos.

No eixo horizontal, da esquerda para a direita está representada a cronologia dos eventos, iniciando em fevereiro de 2007. A última coluna à direita representa a incidência de chuvas no mês de fevereiro de 2009. O pequeno retângulo laranja quantifica a chuva do dia 28.

A altura de cada coluna, mensal, é proporcional à precipitação de chuvas observada em cada mês, medida em "mm" (milímetros). Cada milímetro de precipitação é equivalente a um litro de água de chuva por metro quadrado ao longo do mês.

A linha cinza com pontos em cada mês ilustra a precipitação medida em longos períodos, ou seja, a precipitação média esperada para cada mês, servindo de parâmetro de "normalidade". Pode-se observar que nos meses recentes de novembro e dezembro as chuvas foram acima da média de longo prazo.

A incidência de chuvas resulta diretamente no nível do reservatório da UHE Paraibuna e na sua capacidade de manter a produção de energia elétrica "firme".

Fonte: INPE

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